Frequentemente exaltada como sinônimo de beleza, paixão e protagonismo, a quinta temporada de Casamento às Cegas Brasil, intitulada Nunca é Tarde, surge como um sopro de renovação. Pela primeira vez, o reality show da Netflix é protagonizado exclusivamente por pessoas com mais de 50 anos — e o resultado é uma celebração da maturidade, da vulnerabilidade e da coragem de amar novamente.
A proposta do programa permanece: homens e mulheres conversam em cabines sem se verem, criando conexões emocionais antes de decidirem se querem se casar. Mas com participantes acima dos 50 anos, o conteúdo ganha densidade. As histórias são marcadas por perdas, recomeços, divórcios, filhos criados e décadas de experiências acumuladas. O que se vê na tela não é apenas um jogo de sedução — é uma jornada de reconexão com o afeto.
“Eu achei que já tinha vivido tudo o que podia no amor”, diz Menandro, um dos participantes mais carismáticos da temporada. “Mas percebi que ainda há espaço para surpresa, para paixão, para entrega.”
Casar-se na terceira idade é, em muitos sentidos, um ato de coragem. Envolve abrir mão de rotinas consolidadas, enfrentar o medo da solidão e se expor emocionalmente. Os casais formados no programa enfrentam dilemas reais: como conciliar filhos adultos, finanças, saúde e expectativas? Como lidar com o passado sem deixar que ele contamine o presente?
A antropóloga e pesquisadora de envelhecimento afetivo, Dra. Lúcia Barreto, vê na iniciativa um marco cultural. “Historicamente, o casamento na terceira idade era visto como exceção. Hoje, vemos uma geração que não quer apenas envelhecer com dignidade — quer envelhecer com intensidade. O programa dá visibilidade a esse desejo.”
O etarismo — preconceito contra pessoas mais velhas — é uma das formas mais silenciosas de discriminação. Ele se manifesta em discursos que associam envelhecimento à decadência, inutilidade ou desinteresse sexual. Casamento às Cegas Brasil – Nunca é Tarde confronta esse paradigma ao mostrar homens e mulheres maduros como sujeitos desejantes, ativos e emocionalmente disponíveis.
“Eu nunca me vi representada em um programa de TV”, afirma Marília, participante que se emocionou ao falar sobre sua viuvez. “A gente aprende a se esconder, a não incomodar. Mas agora, estou aqui dizendo: eu ainda quero viver, quero amar.”
A sociedade contemporânea é obcecada pela juventude e pela estética corporal. Corpos envelhecidos são frequentemente marginalizados, tratados como desprovidos de beleza ou sensualidade. No entanto, a quinta temporada desafia essa lógica ao mostrar que o corpo maduro também é território de desejo, carinho e prazer.
Os participantes falam sobre suas inseguranças, mas também sobre suas descobertas. Muitos relatam que, com o tempo, aprenderam a valorizar o toque, a escuta e a conexão emocional mais do que a aparência física. “Hoje eu sei o que me faz feliz. E não tem nada a ver com o que está na capa de revista”, diz Ingrid, uma das mulheres mais assertivas do elenco.
A televisão brasileira raramente dá espaço para protagonistas acima dos 50 anos em programas de entretenimento. Quando aparecem, geralmente são coadjuvantes ou caricaturas. Nunca é Tarde quebra esse padrão ao colocar pessoas maduras no centro da narrativa, com direito a edição cuidadosa, trilha sonora envolvente e enquadramentos que valorizam suas expressões e emoções.
Essa escolha estética é política: ela afirma que a maturidade é digna de atenção, beleza e protagonismo. Ao humanizar seus participantes, o programa contribui para uma mudança na forma como a mídia representa o envelhecimento.
A recepção da quinta temporada foi marcada por entusiasmo e surpresa. Muitos espectadores se emocionaram com as histórias de vida dos participantes, outros se identificaram com suas dores e esperanças. Nas redes sociais, surgiram debates sobre o papel da mídia na desconstrução de estigmas etários e sobre a importância de representar a afetividade em todas as fases da vida.
Especialistas em gerontologia, psicologia e sociologia também se manifestaram, destacando o valor simbólico do programa. Para muitos, ele representa uma virada cultural: o reconhecimento de que envelhecer não significa parar de viver, mas sim viver de outra forma.
Mais do que um reality show, Casamento às Cegas Brasil – Nunca é Tarde é um experimento social que desafia convenções, amplia horizontes e celebra a capacidade humana de se reinventar. Ao colocar pessoas da terceira idade no centro da narrativa amorosa, o programa nos convida a repensar o que sabemos sobre o tempo, o desejo e a felicidade.
Em uma sociedade que frequentemente marginaliza os idosos, essa edição é um manifesto. Ela mostra que nunca é tarde para amar, para se emocionar, para se conectar. E que, talvez, o amor vivido com maturidade seja o mais profundo de todos — porque é escolhido com consciência, vivido com intensidade e celebrado com gratidão.
Assista ao trailer da 5ª temporada da série Casamento às Cegas Brasil - Nunca é Tarde: