Desobedientes (Wayward), criada e estrelada por Mae Martin, apresenta Tall Pines, uma instituição de ensino para jovens considerados “problemáticos”. A série não é diretamente baseada em fatos reais, mas dialoga com histórias verídicas de escolas de correção juvenil e denúncias de abusos em instituições semelhantes. Enquanto a ficção intensifica o suspense com elementos sobrenaturais e conspirações, a realidade expõe práticas de disciplina rígida, negligência e violência psicológica. A diferença central está no tom: a série dramatiza e estiliza os horrores, enquanto os fatos reais revelam um cotidiano brutal e burocrático.
Os protagonistas — Leila (Alyvia Alyn Lind), Abbie (Sydney Topllife) e o policial Alex (Mae Martin) — são construídos com camadas de vulnerabilidade e força. Leila encarna a rebeldia juvenil, Abbie representa a fragilidade diante de sistemas opressores, e Alex funciona como o elo entre autoridade e empatia. A diretora Evelyn Wade (Toni Collette) é o contraponto: uma figura ambígua, que oscila entre carisma e crueldade. Essa multiplicidade de perfis cria tensão constante e dá ao público a sensação de que ninguém é totalmente inocente ou culpado.
A estética da série é marcada por figurinos que misturam uniformes austeros com detalhes que revelam individualidade — uma metáfora visual para jovens tentando escapar da homogeneização institucional. As locações, filmadas em ambientes bucólicos e sombrios, reforçam o contraste entre a aparente tranquilidade e os segredos ocultos. Os efeitos especiais são discretos, mas eficazes: luzes estouradas, sombras alongadas e sons metálicos criam uma atmosfera de paranoia.
Desobedientes dialoga com séries como The Society (2019), Elite (2018) e 13 Reasons Why (2017), que também exploram juventude, repressão e segredos. Contudo, sua proximidade maior é com produções que retratam instituições de correção juvenil, como Dog Pound (2010) e Girls Incarcerated (2018). A coincidência está na crítica social: todas revelam como sistemas criados para “corrigir” acabam perpetuando traumas.
Essa linha mostra como o tema evoluiu: do realismo cru ao thriller estilizado, sempre com foco na juventude como espelho das falhas sociais.
Desobedientes não é apenas entretenimento: é um espelho distorcido que reflete a fragilidade das instituições e a força da juventude em resistir. Ao transformar dor em espetáculo, a série nos obriga a encarar uma pergunta incômoda: até que ponto a sociedade prefere controlar jovens em vez de ouvi-los? Talvez o verdadeiro “desobediente” não sejam os adolescentes, mas o sistema que insiste em domesticá-los.
Assista ao trailer da 1ª temporada da série Desobedientes: