A primeira temporada de O Professor (The English Teacher) não é apenas uma série sobre educação — é uma provocação estética e emocional que desafia o espectador a repensar o papel do professor na sociedade contemporânea. Criada e estrelada por Brian Jordan Alvarez, a produção da FX mergulha no cotidiano de Evan Marquez, um professor de inglês gay em uma escola pública do Texas, onde os conflitos entre ideais progressistas e estruturas conservadoras são tão intensos quanto as aulas que ele tenta ministrar.
Evan Marquez é o epicentro emocional da série. Sua jornada não se limita à pedagogia — ela atravessa dilemas de identidade, sexualidade, e propósito. Ao longo da temporada, vemos sua vulnerabilidade se transformar em força, especialmente nas interações com alunos marginalizados. Os estudantes, por sua vez, não são meros coadjuvantes: cada um representa uma faceta da juventude atual — da ansiedade social à busca por pertencimento. Os colegas de trabalho, caricatos à primeira vista, revelam camadas inesperadas que ampliam o debate sobre o sistema educacional.
Visualmente, O Professor é um deleite. A direção aposta em uma estética intimista, com iluminação suave e enquadramentos que capturam a tensão emocional dos personagens. Os figurinos são cuidadosamente pensados para refletir a personalidade de cada um — do estilo despojado de Evan às roupas rígidas dos administradores escolares. As locações, majoritariamente internas, reforçam a sensação de claustrofobia institucional. A trilha sonora, pontuada por momentos de silêncio estratégico, intensifica o drama sem cair no melodrama.
Não é difícil traçar paralelos com outras produções. Abbott Elementary, por exemplo, também retrata professores em ambientes desafiadores, mas com uma pegada mais cômica. Já Rita (Dinamarca) e Merlí (Espanha) exploram educadores que confrontam normas sociais, assim como Evan. A diferença está no tom: O Professor é mais ácido, mais cru — menos interessado em agradar e mais empenhado em provocar.
A série se destaca ao abordar questões de gênero com naturalidade e profundidade. Evan, como homem gay, enfrenta microagressões e dilemas éticos que ressoam com produções como *Pose*, onde o ambiente escolar é palco de exclusão e resistência. Também ecoa Atypical, ao mostrar como professores podem ser aliados na construção de identidades não normativas.
Desde Dead Poets Society (embora filme) até Freedom Writers e Mr. Holland’s Opus, a figura do professor inspirador é recorrente. Na TV, Boston Public e A Teacher (2020) exploram essa dinâmica com diferentes tons. O Professor se insere nesse legado, mas com uma abordagem mais realista e menos idealizada — aqui, inspirar não é um dom, é uma escolha diária e dolorosa.
A timeline abaixo é uma fascinante jornada que revela como a figura do educador evoluiu na ficção televisiva — refletindo, contestando e inspirando diferentes gerações. Ela não é apenas uma sequência cronológica de séries, mas um espelho das transformações sociais, culturais e políticas que moldaram a percepção pública sobre o ensino e seus protagonistas.
O Professor não quer ser confortável. Ele quer ser necessário. Ao retratar um educador que luta contra a apatia institucional e os preconceitos enraizados, a série nos lembra que ensinar é, muitas vezes, um ato de resistência. E que, por trás de cada aula, há um ser humano tentando sobreviver — e transformar.
Assista ao trailer da 1ª temporada da série O Professor: