Na fervilhante Londres do século XVIII, as ruas não são apenas palco de comércio e política — são arenas de sobrevivência. Em Harlots, série britânica criada por Moira Buffini e Alison Newman, o submundo das cortesãs é retratado com uma intensidade rara, onde cada olhar, cada vestido e cada aliança pode significar vida ou morte. A terceira temporada, lançada em 2019 pelo Hulu e ITV Encore, é o ápice de uma narrativa que mistura drama histórico, crítica social e empoderamento feminino com uma estética de tirar o fôlego.
Embora Harlots não seja uma adaptação literal de eventos reais, sua base histórica é sólida. A série se inspira no infame Harris’s List of Covent Garden Ladies, um catálogo real publicado anualmente entre 1757 e 1795 que listava prostitutas londrinas com descrições detalhadas de seus “serviços”. A partir desse material, os roteiristas construíram personagens fictícios, mas profundamente enraizados na realidade social da época. Assim, Harlots se torna uma obra de ficção histórica que ilumina as sombras da história oficial.
A terceira temporada é marcada por transformações intensas. Margaret Wells (Samantha Morton) retorna de sua breve temporada na América com uma nova visão de mundo e uma determinação feroz para proteger sua família e seu bordel. Sua filha, Charlotte Wells (Jessica Brown Findlay), assume um papel de liderança, enfrentando dilemas morais e políticos ao tentar manter o império da família em meio ao caos.
Lydia Quigley (Lesley Manville), a vilã implacável das temporadas anteriores, é internada em um asilo, onde sua vulnerabilidade vem à tona — mas não se engane: sua crueldade permanece intacta. Já Lady Isabella Fitzwilliam (Liv Tyler) emerge como uma aliada inesperada, representando a elite que começa a questionar sua própria posição e se solidariza com as mulheres marginalizadas.
Essas personagens não são apenas sobreviventes; são estrategistas, líderes e, acima de tudo, mulheres que se recusam a serem silenciadas.
Se o roteiro de Harlots é afiado, sua produção é um banquete para os olhos. Os figurinos são meticulosamente desenhados para refletir o status social e psicológico dos personagens. Corsets apertados, saias volumosas, joias reluzentes e penteados elaborados não são apenas adornos — são armaduras.
As locações recriam com maestria a Londres de 1763: ruas lamacentas, bordéis luxuosos, asilos sombrios e salões aristocráticos compõem um cenário que transporta o espectador para o século XVIII. A iluminação, ora quente e acolhedora, ora fria e opressora, acentua os contrastes entre os mundos que essas mulheres habitam.
Os efeitos especiais são discretos, mas eficazes. A série aposta na direção de arte e na ambientação prática, o que contribui para uma atmosfera crua e visceral.
Embora não compartilhem o mesmo universo narrativo, Harlots e Peaky Blinders dialogam em vários aspectos:
Ambas exploram os bastidores de sociedades violentas e hierarquizadas.
As duas séries são centradas em personagens marginalizados que desafiam o status quo.
Mulheres fortes e complexas ocupam papéis centrais nas duas narrativas.
A estética sombria e estilizada é uma marca registrada de ambas as produções.
Se Peaky Blinders é uma sinfonia de violência e ambição no pós-guerra, Harlots é um balé de sobrevivência e resistência em meio ao moralismo hipócrita do século XVIII.
O século XVIII tem sido um terreno fértil para narrativas televisivas que exploram revoluções, transformações sociais e o papel das mulheres. Confira algumas produções que compartilham esse cenário histórico:
Essas séries mostram como o século XVIII continua a inspirar narrativas que misturam drama, política e crítica social.
A terceira temporada de Harlots é um grito de resistência. Ao dar protagonismo às mulheres que a história tentou apagar, a série não apenas reconta o passado — ela o reescreve. Em tempos de debates sobre igualdade, justiça e representatividade, Harlots se torna mais do que entretenimento: é um manifesto visual e narrativo.
Com sua estética arrebatadora, personagens inesquecíveis e uma trama que pulsa com intensidade, Harlots encerra sua jornada com a força de quem nunca teve voz — mas agora fala alto, claro e com autoridade.
Assista ao trailer da 3ª temporada da série Harlots: