A recontagem de Odisseia de Homero por Robin Lister é mais do que uma adaptação literária — é uma ponte entre o épico ancestral e o leitor contemporâneo. Com linguagem acessível e narrativa fluida, Lister transforma o poema milenar em uma aventura palpitante, sem perder a profundidade filosófica e emocional que consagrou Ulisses como um dos maiores heróis da literatura ocidental.
Nesta versão, o leitor é convidado a embarcar na jornada de retorno de Ulisses após a Guerra de Troia, enfrentando monstros, deuses, tentações e dilemas morais. Mas o que torna essa recontagem especial é sua capacidade de humanizar o mito, revelando o homem por trás da lenda.
A Odisseia é um poema épico atribuído ao poeta grego Homero, datado do século VIII a.C. Embora envolva elementos mitológicos — como deuses, monstros e feitiçarias —, a obra é inspirada em eventos que podem ter raízes históricas. A Guerra de Troia, por exemplo, é considerada por muitos arqueólogos como um conflito real, embora envolto em lendas.
Ulisses (ou Odisseu), o protagonista, é uma figura sem comprovação histórica, mas representa o arquétipo do herói astuto e resiliente. A Odisseia, portanto, não é um relato factual, mas uma narrativa simbólica que reflete valores, medos e aspirações da cultura grega antiga.
Robin Lister consegue dar nova vida aos personagens clássicos, tornando-os mais acessíveis e emocionalmente complexos:
Ulisses (Odisseu): O herói central é retratado como um homem multifacetado — corajoso, inteligente, mas também vulnerável. Sua astúcia é sua maior arma, mas também sua maldição, pois o afasta da simplicidade da vida em Ítaca.
Penélope: A esposa fiel que espera por Ulisses durante vinte anos. Lister a apresenta como uma mulher forte, estratégica e emocionalmente resiliente.
Telêmaco: O filho de Ulisses, que parte em busca do pai e amadurece ao longo da jornada. Sua evolução representa o rito de passagem e a construção da identidade masculina.
Atena: Deusa da sabedoria, guia espiritual de Ulisses. Sua presença constante simboliza a importância da razão e da estratégia.
Circe e Calipso: As figuras femininas que tentam seduzir e aprisionar Ulisses. Representam os perigos da tentação e da fuga do dever.
Poseidon: O antagonista divino, que persegue Ulisses por vingança. É a personificação da natureza imprevisível e da fúria dos deuses.
Cada personagem é moldado por escolhas, perdas e encontros que revelam suas camadas psicológicas e éticas. Lister não suaviza os conflitos — ele os amplifica, tornando a jornada de Ulisses uma travessia emocional tão intensa quanto física.
Essa linha do tempo mostra como os arquétipos de Ulisses e Aquiles continuam a inspirar autores ao longo dos séculos, sendo reinterpretados sob diferentes lentes culturais, filosóficas e literárias.
A Odisseia recontada por Robin Lister é uma obra que transcende o tempo. Ao adaptar o épico para uma linguagem moderna, Lister não apenas torna o texto acessível — ele o torna urgente. Em tempos de incerteza, a jornada de Ulisses ressoa como metáfora da busca por sentido, por casa, por identidade.
Ulisses não é apenas um herói que enfrenta monstros — ele é um homem que enfrenta a si mesmo. E talvez seja essa a maior batalha de todas. A Odisseia nos lembra que o retorno não é apenas geográfico, mas existencial. E que, às vezes, é preciso se perder para reencontrar o caminho.