Em uma narrativa visceral e profundamente humana, O Ônibus Perdido emerge como um dos filmes-catástrofe mais impactantes da década. Dirigido por Paul Greengrass e estrelado por Matthew McConaughey e America Ferrera, o longa é baseado em uma história real ocorrida durante o devastador incêndio florestal de novembro de 2018 na Califórnia, conhecido como o Camp Fire — o mais mortal da história do estado. A produção da Apple TV+ não apenas recria os eventos com precisão documental, mas também mergulha no drama íntimo de personagens comuns que se tornam heróis improváveis diante do apocalipse climático.
O filme se inspira no relato verídico de Kevin McKay, um motorista de ônibus escolar que, em meio ao caos do incêndio, decidiu arriscar sua vida para salvar 22 crianças e uma professora da escola onde trabalhava. A história foi documentada pela jornalista Lizzie Johnson em seu livro de 2021, que serviu como base para o roteiro escrito por Brad Ingelsby (criador de Mare of Easttown) e pelo próprio Greengrass. A fidelidade aos fatos é um dos pilares da narrativa, que intercala cenas dramatizadas com imagens reais de noticiários, reforçando o impacto emocional e a urgência da situação.
Kevin (McConaughey) é apresentado como um homem quebrado: divorciado, em conflito com o filho adolescente, e lidando com a culpa de não ter sido o pai que gostaria de ser. Nos primeiros minutos, o espectador já é convidado a sentir empatia por esse personagem falho, mas genuíno. Sua jornada de redenção começa quando, ao invés de seguir para casa, decide atender ao chamado de emergência e embarcar em uma missão de resgate.
Mary (America Ferrera), a professora, surge como contraponto emocional e racional. Inicialmente sem contexto, sua presença ganha força à medida que o filme avança, revelando uma mulher resiliente, protetora e determinada. A química entre os dois protagonistas é tensa e realista, refletindo o desespero e a coragem que os une.
Yul Vazquez interpreta o chefe dos bombeiros, cuja perspectiva oferece uma visão estratégica da catástrofe. Seu personagem é responsável por trazer à tona a discussão sobre mudanças climáticas, em uma cena poderosa que conecta o drama pessoal à crise global.
A produção de O Ônibus Perdido é um espetáculo técnico. Filmado em locações que simulam com fidelidade os arredores de Paradise, cidade destruída pelo incêndio, o longa utiliza uma combinação de CGI e cenas reais para criar uma atmosfera sufocante e claustrofóbica. A câmera na mão, marca registrada de Greengrass, intensifica a sensação de urgência e imersão.
Os figurinos são discretos, mas funcionais, refletindo a realidade dos personagens: roupas escolares, uniformes de bombeiros, trajes casuais. Nada é glamouroso — tudo é verossímil. O design de som é um dos destaques, com ruídos de sirenes, explosões e o crepitar das chamas criando uma trilha sonora angustiante.
As cenas de ação com o ônibus — que atravessa labaredas, congestionamentos e estradas bloqueadas — remetem a clássicos como Velocidade Máxima, mas com um toque dramático e humano. Os dublês e os efeitos práticos são utilizados com parcimônia, sempre em favor da narrativa.
Para contextualizar a tragédia retratada no filme, é essencial compreender a escalada dos incêndios florestais nos Estados Unidos nas últimas décadas:
O Camp Fire, foco do filme, foi causado por falhas em uma torre de transmissão da PG&E, agravado por ventos fortes e vegetação seca. A tragédia expôs a vulnerabilidade das comunidades diante de eventos extremos e a urgência de políticas ambientais mais eficazes.
O Ônibus Perdido não é apenas um filme de desastre — é um retrato da coragem cotidiana. Ao focar em pessoas comuns, Greengrass nos lembra que o heroísmo não está nos superpoderes, mas nas escolhas difíceis feitas em momentos de crise. A produção é um tributo à resiliência humana e um alerta sobre os efeitos devastadores da negligência ambiental.
Assista ao trailer do filme O ônibus perdido: